
A Netflix e o Algoritmo “Made in China”
Enquanto o mundo gira, a Netflix parece ter encontrado seu novo amor: a China. O crescimento absurdo de filmes chineses na plataforma não é apenas um fenômeno, é uma invasão cultural tão bem orquestrada que até o algoritmo da Netflix parece ter feito aulas de mandarim. E o Brasil, sempre tão receptivo a modismos, está abraçando essa onda com um entusiasmo que beira o pitoresco.
A Netflix, aquela amiga que sempre sabe o que você quer assistir antes mesmo que você pense nisso, parece ter decidido que o que você realmente precisa é de uma dose generosa de cinema chinês. Seja um drama histórico cheio de espadas e traições, uma comédia romântica em Xangai ou um filme de kung fu que faz você questionar suas escolhas de vida, a plataforma está empurrando produções chinesas goela abaixo dos assinantes latino-americanos.
Enquanto a Netflix faz sua parte, a publicidade brasileira já abraçou a moda chinesa com um fervor que só nós sabemos ter. Anúncios de smartphones, carros elétricos e até mesmo cerveja agora trazem atores asiáticos em papéis que vão além do estereótipo do “nerd da TI”. E as novelas? Ah, as novelas! Já podemos imaginar o próximo sucesso das 21h: “Amor à Moda Chinesa”, com direito a triângulos amorosos em meio à construção da Nova Rota da Seda e vilões que usam hashi para comer brigadeiro.
No Brasil do futuro, a influência chinesa será tão grande que as crianças vão crescer achando que o hashi é um utensílio tão brasileiro quanto a cuia de chimarrão. Os reality shows vão disputar quem come mais arroz em menos tempo, e os programas de culinária vão ensinar receitas como “feijoada oriental” – uma mistura de feijão preto com tofu e molho hoisin.
E os brasileiros, sempre adaptáveis, vão abraçar a moda dos olhos rasgados com maquiagens criativas e tutoriais no YouTube. “Como deixar os olhos mais puxados em 5 minutos” será um dos vídeos mais assistidos, enquanto influencers mostram como combinar hashi com Havaianas. Nas telas, os protagonistas das novelas vão se declarar com frases como “Você é o meu arroz, sem você eu não consigo viver”, enquanto comem sushi de picanha.
Enquanto a Netflix continua sua missão de nos transformar em especialistas em cultura chinesa, o Brasil vai seguindo o fluxo, como sempre, com um pé no futuro e outro no arroz. A influência chinesa na publicidade, nas novelas e até nos hábitos do dia a dia é inegável, e o futuro promete ser ainda mais pitoresco. Mas, no fundo, tudo isso reflete a globalização em sua forma mais peculiar: um mundo onde as fronteiras culturais se dissolvem, e onde um brasileiro pode se emocionar com um filme chinês enquanto segura um hashi em uma mão e uma coxinha na outra. E se isso não é progresso, eu não sei o que é.
Então, preparem-se: o futuro é chinês, e ele vem acompanhado de arroz, hashi e muito, muito streaming. 干杯! (Gānbēi! – ou, em bom português, saúde!)
Por Adriano Sampaio, Analista de Inteligência de Mercado e CEO da Duplamente Pesquisas.