Um olhar sobre o Carnaval – Parte 2
Na segunda parte da coluna sobre o Carnaval, assinada pelo publicitário e designer Pedrinho da Rocha, vamos falar sobre as décadas de 1980, 1990 e 2000. Os textos apresentados fazem parte da exposição “Um Olhar sobre o Carnaval”, onde Pedrinho conta, de forma sintética, as seis décadas que transformaram o Carnaval de Salvador de um evento percussivo e provinciano a uma das maiores festas do planeta.
Anos 1980- Essa década iniciou com uma inovação que mudaria o Carnaval de Salvador: o Bloco Traz-os-Montes construiu um trio elétrico totalmente transistorizado, abandonando de vez os velhos amplificadores valvulados e os alto-falantes conhecidos como “boca-sedan”. Agora, eram caixas de som “empurradas” por modernos amplificadores. Pela primeira vez, já no ano seguinte, em 1981, o Traz-os-Montes e a Banda Scorpius (depois, Chiclete com Banana) retiraram toda a percussão, que ficava nas laterais do trio, e montaram uma banda inteira em cima do trio. Com isso, o folião passou a mirar seu olhar para cima do trio e suas estrelas. A partir daí, os artistas passaram a comandar a folia. Bandas de trio elétrico surgiam em todos os blocos. Foi um fervilhar que terminou por desaguar naquilo que chamamos de axé-music. Se seguiram três décadas de grandes sucessos musicais e surgimento de novas estrelas. A música baiana invadiu o Brasil.
Anos 1990 – Vários estilos musicais que compunham a chamada “axé-music”: frevo, ijexá, samba, lambada, galope e o “fricote” do genial Luiz Caldas. Mas um deles, ganhou o mundo: o “samba-reggae” do Olodum, comandado pelo também genial Neguinho do Samba. O Pelourinho entrou para o circuito do Carnaval de Salvador graças aos inúmeros sucessos dos talentosos compositores do Olodum. Até Michael Jackson e Paul Simon pegaram carona nesse sucesso arrebatador. Nos anos 90 também fizeram grande sucesso Banda Cheiro, Banda Mel, Netinho, Durval Lelys, Ivete Sangalo, É o Tchan e dezenas de outros artistas. Com todo esse sucesso, o modelo do carnaval baiano foi exportado para outros estados, com o surgimento de inúmeras micaretas em grandes cidades do Brasil.
Anos 2000 – O Carnaval de Salvador já não cabia mais no antigo Circuito da Avenida Sete. Surgiu então, um novo, o Circuito da Barra-Ondina. À beira-mar, rapidamente esse circuito ganhou prestígio com o surgimento de vários camarotes que, por sua vez, também tinham seus artistas na programação. Outros ritmos como o pagode e o samba passaram a disputar espaço com o que se entendia como “axé music” tradicional. O Carnaval de Salvador se agigantou e ganhou fama em todo o Brasil, passando a ser transmitido nacionalmente e tornando-se uma vitrine não só para os artistas locais, mas também para várias outras personalidades do meio artístico.
As décadas seguintes, 2010 e 2020, consolidaram esse modelo da festa e, a cada ano, novos ritmos e artistas surgem no cenário musical como Léo Santana, Psirico, Baiana System e muito outros alternativos. O Furdunço e o Fuzuê proporcionaram o surgimento de novas ideias. Blocos como o Gravata Doida e o Pranchão, versão minimalista do trio elétrico, sinalizam um novo caminho para nossa festa.
Feliz Carnaval!
Pedrinho Da Rocha é publicitário e designer do Carnaval de Salvador. Trabalhou na criação de fantasias, trios elétricos, capas de discos, campanhas publicitárias e icônicas marcas.