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Menos Leões, mais ativismo

Menos Leões, mais ativismo

Após perda de 12% no volume de inscrições, Festival de Cannes corta em 16% a distribuição de prêmios e enfrenta, ao lado da indústria publicitária, cobranças por posturas mais firmes em prol da sustentabilidade do planeta

Diminuição no total de prêmios distribuídos, alta nas festas lotadas e concorridas, ativismo nos palcos e protestos pacíficos no entorno do Palais marcaram o 68º Festival Internacional de Criatividade de Cannes, que aconteceu na semana passada, levando de volta à Riviera Francesa líderes da economia criativa, executivos de negócios e jovens profissionais de todo o mundo. Após o cancelamento da edição de 2020 e a realização remota de 2021, o Cannes Lions cumpriu sua missão de reunir a indústria de comunicação, marketing e mídia, mas também foi alvo de manifestações inéditas, articuladas pelo Greenpeace, com o objetivo de convencer os agentes da publicidade a não mais trabalharem para produtos e marcas de empresas que produzem ou usam combustíveis fósseis, como os casos de companhias aéreas, empresas de óleo e carros poluidores.

O tema ganha contornos ainda mais complexos quando se cruzam acontecimentos desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, a segunda maior produtora de gás natural do mundo, até a proeminência da alta dos combustíveis no contexto eleitoral brasileiro e na discussão sobre a privatização da Petrobras. Em vídeo pré-gravado, o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky pediu ajuda da comunidade criativa para engajar o mundo em mensagens pelo fim do conflito e preservação da liberdade e da democracia em seu país.

Em outro movimento que ajudou a transformar a questão da sustentabilidade em protagonista do Cannes Lions 2022, a Organização das Nações Unidas marcou presença para alertar que o investimento em publicidade sobre aspectos como a reciclagem ou o uso de plástico, por exemplo, serve como cortina de fumaça para desviar a atenção da sociedade em relação ao principal vilão: justamente os combustíveis fósseis.

Enquanto o head de criatividade do Greenpeace invadia o palco da primeira cerimônia de premiação deste ano, para devolver um Leão que havia conquistado em 2007, quando trabalhava em agência, e para defender que “não há criatividade em um planeta morto”, a própria organização não governamental ambiental conquistava outros Leões nas salas de júri. A campanha brasileira mais premiada do ano é justamente do Greenpeace: “Los Santos +3°C”, criada pela VMLY&R, agência que ocupa o segundo lugar do ranking nacional, à frente da David e atrás apenas da Africa, que conseguiu manter o primeiro lugar, que já ocupou em 2021 e 2018.

Ao contrário das edições anteriores, o Brasil não conquistou nenhum Grand Prix em 2022, o que contribui com a sensação de que o País saiu desta edição do festival sem deixar um case marcante. Apesar disso, colecionou uma boa performance, com 70 Leões, três a mais que na edição anterior. Neste ponto, é preciso considerar também que o mercado nacional andou na contramão, já que aumentou em 31% seu volume de peças, chegando a Cannes com 1.930 concorrentes, ante queda global de 12% no total de 25.464 trabalhos inscritos. Na soma de prêmios concedidos, o festival também esteve mais comedido, diminuindo em 16% os eleitos nas suas 29 competições em comparação ao ano passado e, com 826 Leões entregues, atingindo o patamar mais baixo da última década.

Nas festas lotadas — sinal da demanda reprimida por encontros presenciais — e no entorno do Palais des Festivals não foi difícil notar a mudança de protagonismo nas principais empresas apoiadoras do Cannes Lions, com as plataformas de tecnologia e mídia ocupando o lugar que outrora foi das redes de agências.

Para acompanhar a agenda oficial e os eventos paralelos, Meio & Mensagem esteve presente no evento com uma equipe de seis profissionais, que produziram as reportagens das páginas 26 a 34 e o conteúdo que continua disponível no hotsite meioemensagem.com.br/cannes, nas redes sociais, como os destaques do Instagram, e em cinco programas em vídeo transmitidos de Cannes diariamente e armazenados no nosso canal do YouTube, nos quais os profissionais convidados debateram sobre premiações, reflexos da pandemia e temas que ocupam a agenda atual da indústria, como inclusão, diversidade e, claro, sustentabilidade.