Conexão Digital Obrigatória x O comportamento das gerações nesse cenário
Laila Bensabath, gerente de marketing, relações públicas e estratégia, consultora e growth hacker manager
A crise que vivemos hoje, seja ela permeada pela pandemia e/ou aspectos políticos, culturais, ancestrais e sócio-econômicos, tem nos obrigado a passar por processos de reinvenção pessoal e profissional, ao passo que isso acontece de diferentes formas entre as gerações. Transformações na sociedade, na vida cotidiana, no “modus operandi” e na adaptação disso tudo também à nível psicológico.
Com o advento da pandemia e de todos os acontecimentos que estiveram e ainda estão sob esses holofotes, ao contrário do que muitos imaginam, conduziram a uma aceleração de tendências e adaptações obrigatórias que na “teoria” iriam ser desdobradas ao longo dos próximos dois anos.
Ser digital se tornou uma necessidade obrigatória, e nesse caminhar as diferentes gerações precisaram se adaptar igualmente a este processo. Se visitarmos alguns anos atrás, percebemos que as adaptações foram ocorrendo dentro da sociedade, é claro, mas não de forma tão impositiva como chega neste ano de 2020. Se antes, poderíamos optar em estar conectados ou não para realizar determinada tarefa, hoje não temos outra opção senão estarmos on.
O estado “on” tem gerado um frenesi paradoxal: ao mesmo tempo que estamos na corrida de aprendizado para essa adaptação e novo modelo de vida e mercado, temos do outro lado um movimento inverso, que ainda “briga” com o tempo, com a cronologia para ressuscitarmos algo deixado para trás. É como se vivêssemos no presente, aguardando o momento de tudo normalizar e, esse normalizar não se refere ao futuro, mas sim ao passado. É comum ouvirmos amigos, parentes e as nossas próprias mentes com as frases: “Tomara que tudo isso passe logo, para termos nossa rotina de volta”; “Não vejo a hora de ter a minha vida normalizada” e por aí vai as inúmeras frases do nosso consciente-inconsciente.
Além desse estado “on”, no sentido onipresente e, trazendo um pouco do viés de marketing para esse contexto, podemos atribuir o conceito de “omnichannel”, no qual estamos em todos os lugares, disponíveis e ao mesmo tempo, assim como, os lugares e as coisas estão para nós. É um estado muito conhecido no marketing 4.0, quando se atribui a uma sociedade totalmente conectada, mas assustador e futurístico se a ótica for sobre as nossas vidas.
Estar o tempo todo “on” nos deixa inquietos, com as mentes atribuladas e na busca sempre por algo. Não temos tempo para o descanso; seria quase um pecado, neste momento a palavra “off”, já que para estarmos adaptados ao “novo normal” – jargão da pandemia – precisamos SER “on”.
E, a partir disso, surge uma grande questão: Como tem sido essa adaptação para os nativos e não nativos digitais? O que essa obrigatoriedade de conexão tem mudado em nossas vidas?
Novos hábitos foram inseridos ao nosso contexto “via fórceps” e, “ai de quem não se adaptasse”. Mas, como é enxergar isso, dentro de uma sociedade tão plural a nível geracional, social, política, cultural e econômica? É um contrassenso sem tamanho pensarmos em toda essa pluralidade e, ao mesmo tempo quisermos de forma imperativa e ditadora, dizer: “Será assim”. Como é que podemos chamar de “novo normal” algo que para muitos nunca fez sentido algum?
Imagino a guerra mental, especialmente, da geração X que esteve entre esse intermédio entre o offline e a transição para o online. O “açoite” psicológico nessa geração tem sido carrasco, não é à toa as inúmeras doenças psicossomáticas que têm sido desenvolvidas, especialmente nos últimos anos.
A exigência e transição para o mundo online não era segredo para ninguém e, ela já estava ocorrendo de forma rápida, de modo que, a busca por conhecimento enquanto pessoa e profissional era constante. Entretanto, com esse novo “advento”, o chamado período de “transição” deixou de existir; nos jogando abruptamente para a fase do “on”, do adapte-se ou seja esquecido. Enquanto muitos que já estavam nesse movimento estão no excesso de produtividade, outra parcela vem se auto flagelando para produzir. Então, retorno a pergunta: este é o novo normal?
E para a geração “baby boomer”, que de repente escutou a palavra “nuvem”, como nenhuma outra? Será que de fato foram entendidos os novos conceitos, as novas funcionalidades e a obrigatoriedade de estar “on” sempre? Para essa geração que viveu “ligando pontos” entres épocas, observou grandes movimentos e participou deles também, como é agora a percepção de “novo normal”?
E a geração “millenium” que vem numa crescente forte defendida pela propositologia? Como tem sido para eles encontrar obrigatoriamente esse propósito para viver, mesmo já estando “on” boa parte do tempo e quase que tendo uma extensão do seu próprio corpo para essa era robótica?
Me parece que esse termo não é consensual para todas as gerações, ou mesmo para a sociedade. O paradoxo da conexão digital obrigatória e as diferentes gerações ainda será motivo de muitos estudos, no que tange aos impactos para cada persona e seu “modus operandi”.
Jargões como o “Novo normal”; “Novo Mundo” me soam muito imaturos quando não temos o sentimento de presença. Vivemos hoje presos ao passado, nas referências de mundo que vivíamos, ao passo que o futuro vem se apresentando e, não queremos olhar para ele. A era da “newstalgia” – saudosismo – é um reflexo disso.
Citar ou mesmo começar a escrever o nome do que será o próximo capítulo do que vivemos hoje, sem ao menos, entendermos o que está acontecendo na sociedade como um todo, é antecipar uma tendência que não irá acontecer. Mapear as diferentes gerações, encarar a sociedade pluralizada, entender o que faz sentido para esse novo movimento é crucial, antes de anteciparmos nomenclaturas e jargões para deixar mais “confortável” e previsível, algo que ainda não se conhecesse.