
A publicidade brasileira está próxima de um ideal de representatividade da comunidade lgbtqiapn+?
Marcela Flores e Natane Ferro são da Gente Propaganda, de Vitória da Conquista, agência associada ao Sinapro-Bahia
Em um país culturalmente diverso como o Brasil, a publicidade desempenha um papel importante na construção de identidades e na formação de opiniões. E não seria diferente no que diz respeito à pauta LGBTQIAPN+. Junho, mês de celebração do orgulho dessa sigla que abraça tantas vivências, está chegando ao fim e mais uma vez nos perguntamos como o mercado publicitário vem trabalhando para incluir realidades diferentes em suas campanhas e infelizmente nos deparamos com o fato de que apesar do aumento dessa diversidade, ocorrida nos últimos anos, ainda não alcançamos uma representação autêntica dessa comunidade em publicidades voltadas para temas diversos.
Essa pequena mudança existente no macro pode ser um reflexo do cenário global que tem demandado um novo formato de comunicação das marcas multinacionais que replicam em suas filiais brasileiras essa diversidade, influenciando e inspirando empresas nacionais a participarem dessa transição, seja por achar necessário levar mais pluralidade para a marca ou pela demanda capitalista de seguir a tendência.
O que é visto em maior frequência, no cenário atual, é a representação desse grupo em campanhas sazonais de marcas que abordam o tema apenas nos meses de junho, em pautas específicas voltadas para a diversidade ou comunicação de produtos voltados para esse público. Essa abordagem limitada restringe a visibilidade da comunidade a um aspecto de suas vidas, ignorando suas conquistas, habilidades e contribuições em outros campos. Apesar de óbvio, o mercado publicitário e as marcas parecem esquecer que a comunidade LGBTQIAPN+ também compra imóveis, vai a supermercados, frequenta restaurantes, faz academia, consome produtos de beleza, vestuário, calçados, assim como pessoas da comunidade hétero. Não é um público que existe apenas na sazonalidade.
A maior parte das marcas que se propõe a trabalhar com pessoas LGBTQIAPN+ nas suas comunicações, ainda fazem de forma superficial ou reducionista, reforçando estigmas e não refletindo a diversidade de experiências e identidades. Normalmente, essa representatividade acontece apenas até a letra G da sigla e são raras as vezes que vemos campanhas com pessoas das demais letras, como pessoas trans ou não-binárias.
A comunicação ainda não atingiu o ideal em diversidade, no que tange pessoas negras, gordas, com deficiência, indígenas e está mais distante ainda do ideal em representação de pessoas LGBTQIAPN+, que também existe dentro destas outras minorias.
A representatividade nas campanhas muitas vezes é rasa, temática, caricata ou cotista, demonstrando, por parte de quem a faz, um despreparo em entender o que ela significa. Agências e marcas precisam trabalhar juntas na construção desta nova comunicação, mais inclusiva, começando de dentro pra fora, ao incluir este público em seu corpo de colaboradores, principalmente em cargos de liderança. Investir em equipes diversas e garantir que as vozes e perspectivas das pessoas LGBTQIAPN+ sejam ouvidas e respeitadas durante todo o processo de criação e produção das campanhas é fundamental para combater a invisibilidade que esta comunidade enfrenta diariamente.
Campanhas podem ter o poder de criar impacto positivo, promovendo a aceitação, desconstruindo preconceitos e representando a realidade de maneira mais fiel e por isso devem ser usadas como uma aliada da causa. A representatividade e diversidade LGBTQIAPN+ na publicidade brasileira são questões que exigem atenção e ação contínuas. É fundamental que as marcas e profissionais dessa área se esforcem para ir além de estereótipos, clichês ou apenas cumprimento de cotas, promovendo uma representação autêntica, inclusiva e respeitosa da comunidade LGBTQIAPN+.