O valor do nosso trabalho, por Humberto Mendes
Não sou palestrante. Sou apenas e tão somente um conversador ou contador de histórias. Há tempos fui convidado por uma faculdade de uma importante cidade do interior para falar sobre o valor da propaganda a um grupo de quase 100 jovens estudantes, professores, alguns empresários (anunciantes diretos) e dois diretores de veículos da cidade e região.
Já durante as apresentações, percebi que entre eles havia um grupo de oito ou dez pessoas que claramente não acreditavam no trabalho de agência e se dispunham a contestar o valor de nossa atividade, com base no besteirol e em toda a imbecilidade que se fala por aí em torno de uma suposta culpa da propaganda por vícios como fumo, bebida, drogas e até pela geração de fake news que tantos males vem provocando em algumas esferas, como a política por exemplo. E, como se não bastasse, essas pessoas diziam que a propaganda era um dos insumos mais caros que uma empresa poderia contratar para o seu trabalho de informar o público consumidor.
É claro que resolvi aceitar a provocação.
Entendi aquilo como uma boa oportunidade de fazer uma defesa mais enfática da nossa atividade e foi uma das melhores chances que já tive de falar sobre os valores éticos, morais e profissionais da propaganda, como fonte geradora de progresso, formadora de profissionais de publicidade, relações públicas, design, artes gráficas e criadora de uma rede de meios de comunicação da mais alta qualidade, em rádio, televisão, mídia impressa, outdoor, indústria gráfica, etc, etc e etcetera.
Falamos bastante sobre a história da propaganda e, como em todo o mundo, particularmente no Brasil, essa atividade prestou uma grande colaboração para ensinar muita gente a tomar banho com sabonete, escovar os dentes com creme dental, a usar os eletrodomésticos e ainda continua ensinando a usar tuudo o que a inteligência humana é capaz de desenvolver.
Na conversa com aquele público tão heterogêneo e de diferentes idades, fizemos alguns testes de memorização de marcas e seus slogans, exatamente para desmascarar a informação de que a propaganda é um insumo dispensável e muito caro e não teve quem não lembrasse de criações geniais como: “O Primeiro Sutiã”, “Pirelli é mais Pneu”, “Café Seleto”, “Xerox”, “Atlantic – quem não é maior, tem que ser o melhor”, “Melhoral”, “Cobertores Parahyba”, “Maizena”, “Hipoglós”, “Brahma”, “Antarctica” e muitos outros. Isso tudo gerou uma boa discussão em torno da criatividade e talento do publicitário brasileiro. Valeu a pena.
Mas, o ponto alto da conversa foi quando perguntamos se alguém lembrava do slogan da Bayer e todos, sem exceção, responderam numa só voz: “Se é Bayer, é bom”. E aí foi fácil provar que a propaganda resiste ao tempo e ao vento e é o insumo mais eficaz e mais barato que existe. “Se é Bayer é bom” foi criado por um poeta e publicitário, Bastos Tigre, em 1923. A Bayer deve ter pago uns trocados ou mesmo nada e muito habilmente está usando até hoje. Mas uma verdade que não podemos esconder é que temos que continuar defendendo nossos valores éticos, morais e profissionais como já fazíamos há mais de 60 anos.
Esse é o nosso principal compromisso profissional.
A crônica acima foi publicada no livro de Humberto Mendes, “Crônicas de Propaganda” – Segunda edição revista, atualizada e felizmente esgotada.