O publicitário, o deus, o louco e o técnico
Publicitário que sou há quase 25 anos e também professor universitário em disciplinas das áreas de propaganda em marketing, eu também fui – e sou! – constantemente alvo de rótulos seculares atribuídos aos profissionais da nossa área.
O primeiro rótulo vem de centenas de anos antes de Cristo, mais precisamente do filósofo Platão, que definia a criatividade como algo de origem divina. Logo a criatividade, que é um dos pilares da nossa atividade, na visão de Platão, viria de uma “visitação” divina, quando um deus derramava suas bençãos sobre um indivíduo e, em meio a um frenesi transcendental, a ideia criativa aparecia.
Convenhamos, essa forma de pensamento é um tanto injusta. Se você observar, por essa visão, o tal “dom divino” estaria disponível apenas para alguns poucos escolhidos dos deuses.
O segundo rótulo vem da psicanálise freudiana, quando associadam a imagem do publicitário como a de um “louco”. Na visão de Freud, a criatividade seria fruto de neuroses. Na era vitoriana, pacientes que tinham seus desejos reprimidos, especialmente mulheres, recebiam orientação de dar vazão às suas neuroses produzindo textos, pinturas, esculturas…Enfim, gerando arte com a libidinosa criatividade.
Há um problema na criatividade como loucura. Embora ela seja artisticamente interessante e até mesmo encantadora, faltam ingredientes essenciais à publicidade, tais como: a análise de cenários, a montagem de estratégias e táticas, a ordem dos pensamentos com foco em resultados.
Por fim veio o terceiro rótulo, que considero o mais justo, pois está associado ao esforço, à dedicação, à vontade, à obstinação. É o império da “técnica”.
Nomes como Rosser Reevers, Bill Bembach, David Ogilvy, Washington Olivetto, Agnelo Pacheco, Nizan Guanaes, Duda Mendonça e tantos outros, construíram suas histórias elaborando raciocínios lúcidos, à base de observação e pesquisa, focados em objetivos de mercado. Uma razão que conecta a mente e o coração.
Em pleno 2020, quando a fragmentação do público é crescente, as possibilidades midiáticas se proliferam em alta velocidade e a criatividade vem sendo moldada cada dia mais pela inteligência de dados, o trabalho do publicitário está mais do que nunca fundamentado em técnicas, mas bem longe da frieza de uma máquina.
É trabalho que contém suor na pele e sangue nutrindo seus mais de 100 bilhões de neurônios. É gente que aprende e reaprende a ponto de deixar os deuses loucos de inveja.
Feliz 1° de fevereiro! Dia de todos nós publicitários.
Agnelo Rocha – Redator na Rocha Comunicação e Professor na Unifacs