Ainda estamos vivos
Por Humberto Mendes, Vice-Presidente Executivo da Fenapro – Federação Nacional das Agências de Propaganda
Sonhei um sonho altamente preocupante. Talvez seja porque sempre que alguma coisa ameaça por em risco as coisas que amo, fico com aquilo na cabeça e acabo sonhando à noite.
“Eu fazia meus contatos no mercado, eu conversava com um diretor de empresa, não digo seu nome porque não lembro, só o que sei é que aquela pessoa não demonstrava um mínimo de respeito pela minha profissão, que é também a dele, e de todos nós, a propaganda.
Enquanto eu argumentava que deveríamos fazer um esforço para manter os nossos Sindicatos operando e trazendo de volta as agências que debandaram, (a dele também já estava se preparando para debandar), obedecendo a uma nova regra idiota embutida na Reforma Trabalhista, que tornou opcional o recolhimento do imposto sindical, comentava que conhecendo como conhecemos muitos de nossos empresários, o simples fato de ser agora opcional recolher ou não o imposto, sindical, já seria mais do que suficiente para empresas como a dele, deixarem de pagar, mas que indubitavelmente continuariam praticando a esperteza ou malandragem de usar os préstimos dos Sindicatos e das entidades de classe.
Minha insistência nesse ponto é porque todos sabemos o quanto foi e continua sendo importante o trabalho dos Sindicatos, já que eles são, como sempre foram, o melhor ponto de apoio das agências.
Na minha argumentação eu contava, como velho que sou, histórias da propaganda e de como ela colaborou para o desenvolvimento da humanidade: lembrava grandes campanhas que nossas agências já fizeram, destacando a célebre campanha que Henry Ford e sua agência, a Thompson, criaram durante a Segunda Guerra Mundial, “Há um Ford em seu futuro… prevendo que a Guerra não duraria sempre e o resultado é que quando a Guerra acabou a Ford vendeu tudo o que tinha e o que ainda iria produzir. “
Eu tentava mostrar àquele cidadão como a propaganda brasileira, com o apoio dos nossos Sindicatos de Agências, se organizou em todo o país e como, de lá para cá, temos ajudado o Brasil na formação de um grande parque industrial, de um enorme movimento de varejo e uma rede de meios de comunicação das melhores do mundo além de outras relevantes realizações.
O homem não me deixou terminar de expor minha proposta e sua argumentação toda, girou em torno de uma colocação, que, como nunca imaginei, pudesse vir dele, como: “não adianta querer acreditar que o publicitário brasileiro quer saber de levantar uma relevância que a propaganda não tem, nunca teve e nunca vai ter. Pra que falar do passado se nada mais resta dele?”
Isso para mim, soou como renegar a história e quem renega a história, renega sua própria existência.
Fiquei pasmado com seus argumentos, principalmente com a absurda colocação quase que convicta de que o nosso negócio acabou e tem vida curtíssima. Saí daquele encontro muito triste e frustrado por não poder recomendar a ele que abandonasse a atividade e montasse outra coisa mais compatível com aquela sua disposição de momento.
Por falar em lembrar do passado, lembrei que Caio Domingues, meu guru e grande mestre, fazia, ainda que por brincadeira, a seguinte recomendação: “Se você vai montar uma agência pra não acreditar na importância dela como empresa ética, útil e capaz de enfrentar os problemas do seu mercado, melhor seria montar um prostíbulo …”.
Bem amigos, como sou um cara quixotesco, pois acredito que é possível o tempo todo ter fé naquilo que fazemos, vou continuar propondo que não abandonemos a luta, enquanto estivermos por aqui.
Afinal ainda estamos vivos e sonhando com um futuro melhor para a nossa atividade.
Humberto Mendes